terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Repensando as cidades.

DIÁRIO DO COMÉRCIO

Questões de sobrevivência

A Organização das Nações Unidas (ONU) informa que 3,3 bilhões de indivíduos vivem atualmente em cidades, número pela primeira vez maior que o do contingente de habitantes de áreas rurais. Essa transformação, que ganhou velocidade nas últimas décadas puxada principalmente pelo processo de urbanização na China, será um dos principais fatores condicionantes das transformações nas condições de vida no planeta. De um lado, diz respeito, diretamente, à oferta e preços de alimentos, de outro implica em maior demanda por equipamentos urbanos, suprimento de energia, água potável e seu esgotamento em condições sanitárias adequadas. E tudo isso impactando severamente o meio ambiente, os sistemas de produção, a demanda e a oferta de empregos, bem como a natureza do consumo.

Não parece ser pouca coisa. E, coincidência ou não, será também, no próximo mês de março, tema de encontros internacionais que se realizarão em Curitiba e no Rio de Janeiro, colocando o Brasil no centro das discussões sobre o futuro das cidades ou, mais amplamente, das condições de vida no planeta. Em Curitiba, entre os dias 10 e 13, acontecerá a Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, enquanto o Rio de Janeiro sediará entre os dias 22 e 26 o 5º Fórum Urbano Mundial. Trata-se, como já disse um especialista, de garantir a qualidade de vida dos moradores das cidades, num processo sustentável a longo prazo.

O Brasil conhece bem o peso dessas rápidas transformações. Até meados do século passado era ainda o país essencialmente agrícola, expressão cunhada para definir a um só tempo a distribuição espacial da população quanto seus principais meios de produção. As cidades foram crescendo - na realidade inchando - rapidamente e nas alturas dos anos 80 a situação já se invertera, tal como acontece agora no planeta. Entre 70% e 80% dos brasileiros vivem hoje em espaços urbanos, cujo crescimento rápido e desorganizado ajuda a explicar as condições sanitárias e de habitação, bem como as dificuldades de circulação, as limitações de infraestrutura e a própria violência.

Olhando à frente e ainda na perspectiva da realidade e do interesse brasileiros, impedir que o desequilíbrio detectado se acentue ainda mais demanda esforços consistentes. Trata-se de descomprimir as grandes metrópoles, via interiorização das atividades industriais, e do favorecimento da agricultura familiar, uma receita tão velha quanto desconsiderada. De qualquer forma continua sendo para o Brasil - e para boa parte do mundo - a opção mais inteligente e também a mais barata, além de mais sensata.

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