Política
Eleição. Movimento pretendia fortalecer candidaturas da ministra da Casa Civil e do vice-governador em MG
Tucanos barram "Dilmasia" para preservar Aécio
PSDB de Minas quer evitar a culpa de uma eventual derrota de José Serra no Estado
Amália Goulart
Um grupo restrito de prefeitos do interior de Minas Gerais quis homenagear o governador Aécio Neves (PSDB) e acabou por criar um grande embaraço para o tucano, que se mobilizou nessa semana para pôr fim ao mal-estar. Foi a promessa de reedição do chamado "Lulécio", movimento que teve por objetivo reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Aécio Neves (PSDB) - mas, agora, sob a forma de "Dilmasia", que pretende criar um voto casado em Dilma Rousseff (PT), ministra da Casa Civil e pré-candidata à Presidência, e Antonio Anastasia (PSDB), vice-governador de Minas e concorrente ao Palácio da Liberdade.
Ao governador não interessa uma derrota do PSDB em Minas na disputa pelo Palácio do Planalto. Se os tucanos forem batidos no Estado, Aécio corre o risco de ser culpado pelo baixo desempenho eleitoral, o que é considerado pelos tucanos um balde de água fria nas pretensões do mineiro para 2014.
Mas ao contrário do "Lulécio", que ocorreu de forma efetiva, o "Dilmasia" não passou de um ensaio. Os prefeitos garantem que Dilma e Anastasia não têm o mesmo apelo e peso políticos que Lula e Aécio. "Dilma e Anastasia são dois postes. Um não sustenta o outro. Dilmasia tem até nome de doença: asia", afirmou em tom de ironia um prefeito da base petista, que preferiu não ser identificado.
O "Lulécio" foi lançado pelo prefeito de Salinas, no Vale do Jequitinhonha, José Prates, o mesmo que tenta dar fôlego ao "Dilmasia". A articulação acabou levando à expulsão de Prates do PT. Agora filiado ao PTB, ele garante que existem colegas que vão pedir votos para Dilma e Anastasia. Segundo o petebista, os eleitores queriam ver o governador Aécio Neves candidato à Presidência da República. O plano foi frustrado pelo governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB. "Aécio ainda está na cabeça dos eleitores como candidato a presidente. Ele só não será por causa da elite paulista. O povo não aceita isso", disse Prates, para explicar porque os prefeitos mineiros preferem mais votar em Serra do que em Dilma. Ele evitou nominar os prefeitos que também fazem parte da empreitada.
Antes que a iniciativa de Prates começasse a ganhar visibilidade - e para se precaver -, o secretário de Governo, Danilo de Castro (PSDB), reuniu alguns líderes de partidos da base de Aécio, além do presidente da Assembleia de Minas, Alberto Pinto Coelho (PP), na Cidade Administrativa, na última terça-feira, para pedir que avisem aos prefeitos de suas bases eleitorais que o governador só terá chances de tentar o Palácio do Planalto, daqui a quatro anos, se Serra tiver uma votação expressiva em Minas. O raciocínio que Castro pediu que fosse repassado, de acordo com um dos líderes que esteve no encontro, é o de que o tucano não pode ser acusado pelo PSDB nacional de fazer "corpo mole". Ele precisa de apoio para se viabilizar nacionalmente. E este apoio inclui, obviamente, o tucanato paulista.
Antes de dar o recado aos prefeitos, o PSDB tratou de tranquilizar os paulistas. O presidente da legenda em Minas, deputado federal Nárcio Rodrigues, foi a São Paulo, na semana passada, dizer a José Serra que o movimento é pequeno, isolado e seria reprimido.
O próprio Aécio Neves tem falado de público, repetidas vezes, que o paulista tem o seu apoio irrestrito na campanha presidencial.
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Análise
Apelo por Lulécio era maior do que o movimento atual
O “Lulécio” deu certo em 2006 porque tratava-se de dois candidatos – Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Aécio Neves (PSDB) – que vinham de governos bem avaliados e com grande chance de vencerem. Mas, neste ano, a situação é outra. É o que afirma o cientista político da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Malco Camargos. “O movimento ‘Dilmasia’ é muito arriscado”, diz o especialista.
Para Camargos, apesar de a pré-candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff (PT), ser apoiada por Lula e de o pré-candidato tucano ao Palácio da Liberdade, Antonio Anastasia, ter o aval de Aécio, eles não têm o mesmo apelo que seus padrinhos. “Nesta eleição não se sabe quem vai ganhar. Quando houve o ‘Lulécio’, Lula já entrava com muita vantagem e, Aécio, todos sabiam que ia vencer. Agora é diferente”, conclui. (AG)
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Só onda
Prefeitos da base e da oposição negam casamento de voto
O presidente da Associação Mineira de Municípios e prefeito de Conselheiro Lafaiete, na região Central de Minas, José Milton (PSDB), disse que tem se encontrado com colegas diariamente e não percebe o voto casado – o movimento chamado “Dilmasia” – neste ano. “Não tenho visto manifestações assim. O ‘Lulécio’ pegou porque aconteceu na prática. Hoje, não existe esse sentimento, essa clareza”, afirmou. “Pode ser que um ou outro prefeito possa defender o ‘Dilmasia’, mas fora isso, não passa de onda e especulação”, disse.
Ele acredita que o voto casado neste pleito “não vai pegar”. Segundo ele, o governador Aécio Neves (PSDB) vai fazer campanha para o colega de partido quando percorrer o Estado. “Acredito que o governador, como candidato a senador, vai construir em Minas a candidatura de José Serra casada com a candidatura do vice governador Antonio Anastasia ao governo de Minas”, completou José Milton.
Pelo lado petista, prefeitos garantem que não têm interesse no “Dilmasia”. Eles estão concentrados na defesa de uma candidatura própria e forte ao governo de Minas. “A tentativa (do voto casado) é equivocada e oportunista. Nós queremos ter candidatura própria no PT em Minas. Temos bons nomes”, disse o prefeito de Alfenas, no Sul de Minas, Pompílio Canavez (PT).
“A história do ‘Lulécio’ talvez tivesse razão de existir. Lula e Aécio eram bem avaliados, tinham componentes que justificaram. Agora, ‘Dilmasia’ é uma comédia”, completou. (AG)
O que é
Dilmasia: Seria o voto casado em Dilma Rousseff, para a Presidência, e em Antonio Anastasia, para o governo de Minas Gerais.
Lulécio: Voto casado em Lula, para presidente, e em Aécio Neves, para governador, em 2006.
Diferenças: O “Lulécio” ganhou corpo no interior de Minas. Dezenove prefeitos petistas assinaram, na época, um manifesto em favor desse movimento. Dezenas de outros prefeitos aderiram. O “Dilmasia” não conta com a mesma adesão.
Publicado em: 29/03/2010
terça-feira, 30 de março de 2010
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